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segunda-feira, janeiro 29, 2007

Os meus/Prece

Não perdi ainda o chão
nem tampouco a esperança
Aprendi desde criança
a chorar pra ver se vem
E juro, chorando comovo até deus
Mesmo não sendo mais neném
Sem saber mais dizer amém
De pé, manhazinha no trem
Eu chamo por deus
e juro! ele vem
Não é pq já me achei no lixo
Amei um e outro vício
Que não posso pedir com beicinho
Pode ver, ele cede aos meus caprichos
Já derrubei foi lágrima
Reguei por demais o chão
E quantas vezes de cara lavada
já o vi estender-me a mão
Ele se faz de surdo
e brinca comigo no carnaval
Depois briga comigo
mas traz sempre presente no natal
Não me pede reza
mas no centro da mesa
um brinde ele não despreza
É porque eu sou bem moça
É porque eu to de fossa
e msmo assim faço festa
Toco cá minha bossa
e não há quem comigo possa
Ninguém mais comigo enfeza
Porque eu não sou só eu
Se pisar no meu calo
Se tentar cobrar mais caro
Se der mais de um disparo
Se tocar no meu cigarro
ou pedir mais de um trago
Se bater no meu carro
Ou não pagar o emprestado
ó, que eu abro o berreiro
Posso não ter tanto jeito
Mas comovo até deus
É pq eu sou bem moça
é pq to de fossa
e msm assim faço festa
toco cá minha bossa
e não há quem comigo possa
nem mesmo deus
perdoa, senhor
esqueci de dizer:
é que eu sou ateu.

"Uma palavra sem significado"

Hoje já pouco importa
o que tranca a porta
ou quem bate nela.
Cansei de esmurrar as pontas
de facas e cigarros,
pois quando vc me aperta
não penso em estar alerta.
E pouco me fodo
pra porta aberta.
Não me interessa mais ouvir
seus discursos e juras,
tampouco a canção no rádio.
Mesmo esmurrando e surrando
qualquer letra que me apareça
fico cá pensando
no quanto não sou mais a mesma...
É só o amor, meu amor;
o pré-amor, o pós-amor.
O amor desarmado, desalmado.
Acho que eu tava procurando um céu
e não vi que eram só paredes azuis.
Depois dos sonhos,
os sonhos ficaram
e os meus escombros se remoldaram.
Os planos foram surgindo
inevitáveis
com o passar dos anos.

Mas, vez ou outra,
numa gota de surto psicótico,
eu vejo quase a contragosto
a canção ainda linda
as juras meio foices
e cada vez mais doces.
O aperto na pele e no peito,
sempre um deleite louco
e sem nenhum receio.
E nossa porta aberta
com desleixo trancada.