Para ler ao som de Pra você dizer o nome (5 a seco).
Metade de mim é palavra.
Digo isso sem qualquer dimensão de medidas.
Como quem reparte um pedaço de comida
com desproporção inconsciente.
Minha metade-palavra
às vezes se cala.
Ou finge
e se escreve de outras formas.
Palavra-imagem,
palavra-comida,
palavra-sentimento,
palavra-masturbação,
palavra-gozo.
Mesmo quando eu digo
em vez de escrever
(e olha que eu venho aprendendo a dizer,
a olhar nos olhos e nomear sentimentos),
é sempre palavra.
Tenho aprendido que palavra tem gosto, cor, corpo, textura.
Palavra tem som, cadência, ritmo.
Palavra tem até maquiagem
e se entrava no alto das pernas.
Mas tem hora
que mesmo a palavra mais ensaiada
(da repetição e da saia)
não pode ser dita.
Fica pairando na garganta
sem engolir de volta
por falta de lubrificante
ou simples medo de que machuque.
Fica boiando no copo
e desmantela sem derreter,
como esses gelos artificiais de hoje em dia.