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quarta-feira, agosto 27, 2008

Perigoso

Porque a fé é azul,
o amor é cinza
e a raiva amarela.
Porque todas as coisas
só existem quando e porque
a gente precisa delas.
E principalmente porque o desejo...
Ah, o desejo tem várias cores,
o desejo tem várias horas.
O desejo é vermelho,
um puxão de cabelo,
uma cicatriz no tórax.
O desejo é branco,
pratos limpos,
termos claros,
versos tantos.
O desejo é róseo, rígido e calado,
o desejo é até meio azulado
- como bem o são as segundas-feiras -
O desejo oscila entre claro e escuro,
conforme a luz: apagada ou acesa.
O desejo é chuva, é ponto de ônibus,
é banco de carro, rede, chuveiro e chão de quarto.
O desejo chupa, cospe, ou só roça a mão de leve
e depois me põe no colo
e diz o quanto me merece.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Vai, me arranca um poema!
Me arranca no suspiro da pele sob seu toque macio...
Vem, arranca esse poema dos meus olhos,
arranca esse umidecer
que nunca explode em lágrima inteira.
Arranca esse poema preso na garganta,
arranca junto com os gritos de prazer.
Arranca essa sensação que me arranha o peito,
arranca essa metade, essa leveza:
transforma esse instante bonito no grito intenso.
Tira de mim esse cheiro de sexo grudado no suor,
impregnado em mim de um jeito
que já me parece impróprio suar se não for por orgasmo
Tira seu pau da minha boca,
arranca esse gosto de porra
e vê se eu cuspo poesia!
Arranca minha roupa, meu ar, sei lá...
Leva tudo!
Mas não leva esse poema não.
Deixa eu guardar a poesia disso
só aqui dentro de mim.

terça-feira, agosto 12, 2008

Palavra.

Será que existem palavras para descrever esse momento?

Bobagem supor que existam palavras fiéis o bastante a ponto de descrever um silêncio tão puro. Um silêncio pleno. A sintonia plena. A respiração mútua. Talvez o barulho da água caindo na pele seja o som mais próximo de uma tradução, o barulho impossível de ser escrito. Talvez o intervalo entre as músicas de fundo. Talvez o silêncio da hora em que sobem os créditos dos filmes. Talvez o som dos copos brindando. Talvez alguma música alta, tocada pela segunda vez no carro.
Talvez a respiração ao pé do ouvido.

Talvez um misto veloz e confuso de todos esses sons.

Talvez nem caiba tentar descrever ou escrever.

Fica a lembrança indizível. O afeto invisível. O instante indescritível. Um corpo indivisível. Os momentos inesquecíveis.

Será que você vai ler essa cena nas minhas palavras?

Tem coisas que a gente só lê no tom da voz, e não nas palavras que ela profere. Tem coisas que a gente só lê no brilho dos olhos, no toque dos dedos, das mãos, da pele. Tem coisa que a gente só lê nos silêncios puros.