Mentira, porque eu já sei há muito colocar no lugar certo esse j que ninguém fala, que minha mãe nunca aprendeu. Eu sei o quanto muda a vida também. Eu sei que você já foi, já voltou, que eu também já fui, mesmo estando perto e que também voltei. Sei, acima de tudo, que de um jeito ou de outro, a gente sempre esteve aqui. Mas saber às vezes não adianta de nada. O conhecimento pode ser inútil, pode ser arrogância, estratégia de sedução, trivialidade ou uma vontade estranha de entender o mundo, de se sentir em casa nele, de transformá-lo em um lugar mais confortável. Mas tudo isso não muda o fato de que, mesmo sabendo que você volta, que o tempo é curto perto desses quase treze anos, mesmo com certezas grandes e pequenas na vida, fato é que eu vou sentir saudades.
Ou melhor, eu comecei a senti-la hoje quando de repente me lembrei como era ruim quando você não estava ao alcance de um telefonema, quando não tinha esse abraço compreensivo de quem discorda de absolutamente tudo o que eu estou dizendo, mas que me diz com os olhos que isso não tem a menor importância. Assim como não tem importância o fato de que já perdi o fio das frases, o sentido das coisas e tudo bem, porque esse texto vai ficar chato e você não vai querer ler.
Mas caso você mude de ideia e resolva passar por aqui, saiba que uma das coisas melhores da vida é ver o sorriso de felicidade nos olhos de quem a gente quer ver feliz. E mesmo que eu só vá vê-los virtualmente durante algum tempo, a certeza de que eles sorriem me faz feliz também.
E a saudade a gente transforma em copos que esperarão para ser novamente enchidos, de água, guaraná, cerveja, vinho, mate - enchidos de histórias e palavras, enchidos de troca. Essa troca que percorre os anos, os continentes e que mantém o mesmo imediatismo, o mesmo conforto, a mesma sensação gostosa de poder percorrer na mesma frase o leite ninho e sociologia musical.