É só uma questão de recobrar a saúde, recobrar as rédeas, recobrar a sanidade, o volume do rádio, a agenda de telefones, o formato do travesseiro. O relógio corre. Os dias idem. E não há tempo. Simplesmente não há tempo nem sanidade para criar de novo as próprias armadilhas. O segredo é desfazer o ponto à mesma proporção que teço. Difícil é saber medir e controlar a velocidade com que o sol bate nos olhos.
O tempo é necessário. A solidão é necessária. Qualquer tropeço me faz perder o rumo nesse caminho de quem não sabe aonde está indo. O sabor do passo, lembra? Uma hora ou outra esbarro num instante mais bonito que desvirtua, fragiliza.
Há mais cores e possibilidades e não há doença que Drummond não cure. Não há cabeça que o coração não ame e não há lembrança e rosto virado na rua que não faça lembrar o quanto o amor arde - mesmo quando a gente anda depressa demais tentando não rever os próprios passos. Vovó diria que tropeça, mas as pessoas da minha família nunca gostaram de alimentar estereótipos.
É preciso tempo e dedicação. É preciso convivência. É preciso não precisar e saborear devagar cada pequena folha de manjericão.
O carnaval acaba, sempre acaba. A coerência não, posto que ela nunca existiu.
Os vírus passam depois de determinado ciclo. Atos de um drama teatral: o momento da reflexão sempre chega. Ainda que seja a mais simplista, a mais cliché, a mais encerramento-birra de quem no fundo guarda o vestido estampado para o carnaval que vem.
Eu pinto o nariz quantas vezes for, mas o suor borra e a pintura se desfaz.
domingo, fevereiro 17, 2013
segunda-feira, fevereiro 11, 2013
Negras nuvens
Ao som de Canto de Ossanha.
"Que sonho é esse de que não se sai
E em que se vai trocando as pernas
E se cai e se levanta noutro sonho"
(Chico Buarque, Sonhos sonhos são)
Eu tento acordar, tateio no escuro à procura das cortinas que me trarão a luz do sol e vejo que elas já não existem, que nunca existiram, que o dia brilha forte na cara, queima a pele, cega os olhos - assim, pleonasticamente. O dia nascendo antes do tempo, o acaso que brinca de achar e perder me canta risonho a trilha sonora desencontrada de uma letra esquecida: que quem diz muito não é. Que todo alarde é conversa fiada, seu moço, e você nem percebeu que eu não sou capaz de jogar por muito tempo os jogos, não aguento muito tempo a máscara nem quando é carnaval. Porque pesa, porque o sol é quente e porque é melhor ver o mundo de olhos bem abertos e sem nada que tampe. Porque em lugar de máscara eu quero a fantasia. E eu tenho muito mais delas do que supus. Essas mesmas que eu invento, mato e morro no drama intenso e canastrão que vira uma conjunção de passados travestidos e repetitivos sob o sol escandante. Feito miragem às avessas, delírio, teto preto e as tais verrugas na memória.
Minha eterna fuga rodeia os mesmos quarteirões repetidas vezes, recruza com mesmos des-rostos, desgostos. Clichés, mundos e mundos de clichés.
O que a gente faz com isso que aparece quando não há amor-próprio, bom senso ou o que quer que seja em quantidade suficiente para respeitar os jogos, as regras, os próprios discursos, as preservações quando tudo na vida (ui, palavra grande!) se resume a fazer ou não fazer o que se tem vontade. Quando a fome que não engole de tanto desespero cruza multidões e se disfarça de curiosidade simplória.
Talvez ainda haja tempo de pular do barco, do bloco, do bonde. Talvez venham manhãs, talvez não passe de cinzas.
Submerso em confetes, esvai-se como o corpo que se esparrama em suor, ficou por debaixo da maquiagem, das fantasias.
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