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quinta-feira, dezembro 11, 2008

Copo de vidro

Foi na hora em que você não viu. Sem ser muita novidade, posto que, não raro você não estava olhando. Por isso mesmo, há de ser um mistério para a vida inteira. Um vento bateu na hora. A força do espírito santo. Um mau agouro. Ou uma mão cheia de vontade pegou com força o copo e o fez espatifar-se com gosto, em mil caquinhos, no chão. Você não viu. Você não sabe. Nunca saberá.

Agora está assim: irremediável.

Copo de vidro não é cobra de vidro, eu bem já lhe havia dito. Mas você não conhece, nunca nem ouviu falar em cobra de vidro e julgava que o copo estivesse bem guardado. E eu, embora tenha na paciência uma das minhas grandes características na vida, não tive paciência - ou foi vontade mesmo - para explicar. É porque você, além de nunca querer ouvir, não entederia. Não é capaz de perceber que se você deixa por aí largado o copo, cheio ou vazio, pode mesmo acontecer dele cair e quebrar. Difícil? Não.

Copo quebrado todo mundo sabe que o remédio único é varrer e jogar fora os cacos. Minha mãe também me ensinou que, depois da tragédia feita, é bom andar calçado porque sempre ficam uns cacos e se pode cortar o pé. Eu aprendi.

Mas então, agora, depois do chão já limpo, você vem para catar os cacos e saber do que aconteceu. Caiu, quebrou, passou. É só o que eu lhe digo.

O chão já está limpo, já disse e odeio me repetir. Eu já estou pronta. Já tenho um jogo novinho de copos de cristal guardados numa charmosa cristaleira - "resiste ao tempo e às boladas que levou". Aliás, vai ver foi isso: umas crianças jogando bola, é assim mesmo... entra pela janela, bate e sempre quebra alguma coisa. A gente grita, reclama com os pais, mas no fundo não liga não. Acha até bonito, engraçado, coisa da idade.

Então pronto. Expliquei. E daí se não é verdade? Podia muito bem ser. Se o que você queria era entender está tudo certo. Agora eu preciso ir, atrasada para um compromisso importante. Você faça o favor de ir embora porque eu já disse - e era o mais importante que, como sempre, você nem se importou: era copo de vidro e não cobra de vidro. Porque cobra de vidro é uma espécie de lagarto que se você parte "dois, três, mil vezes, facilmente se refaz".

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