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segunda-feira, novembro 07, 2011

Compromissos, birras e frases ríspidas


Não posso negar que tenho o defeito de me sentir injustiçada. Sabe aquela mania que a maioria dos seres humanos têm de se encerrarem dentro de seus casulos cinzas achando que os seus problemas são os maiores do mundo? Então... Acho que eu passo uma boa parte do meu tempo enxergando moinhos enormes que não me deixam dar sequer um passo de tanto medo. Eu posso até saber que existem sofrimentos muito mais graves, mas, por mais que eu me solidarize com a dor do outro, não tem jeito, é só a minha que dói na minha própria pele. E dói bastante, bem mais fundo que a pele até. Às vezes dói no estômago, noutras ardes nos olhos insones, nas pernas esticadas ou dobradas, a depender das circunstâncias, por mais tempo do que deviam e queriam. Há os momentos de doer nos braços e nos ombros o peso; além das mãos, a escrita infindável (quem falou que escrever não é trabalho braçal nunca teve de dar aula escrevendo no quadro por um dia inteiro). Da cabeça não se fala, a falta de sono, a visão que parece diminuir a cada dia ignorando a minha aparente juventude.

Doem as contas, os prazos, as cobranças, as datas, as horas que passam, os passarinhos que começam a cantar, desaforados e lindos, antes que eu durma, o sol que nasce agredindo, de novo, os pobres e exaustos olhos. Dói a minha ausência de mim, das pessoas que amo e que pouco vejo nascerem, crescerem, envelhecerem. São dores pequenas que se somam e que eu sei que são pequenas e minhas. Não saem das minhas paredes, não são despejadas em cima de ninguém. Não se convertem em lamúrias para amigos - dos quais prefiro mesmo me afastar para não ficar uma pessoa chata e lamurienta. Daí que vem a outra dor, a da incompreensão.

Uma das coisas de que não gosto na vida é quando colocam o lazer na esfera da obrigação. Sabe quando você marca de ir à praia num lindo domingo de janeiro e reclamam da sua meia hora de atraso? Este é só um exemplo, pois nunca tive o hábito de me atrasar. Me entristece que as pessoas criem ainda mais causos e sofrimentos pelas minhas ausências, transformem-nas em ainda mais cobranças como se fosse porque eu gosto que fico noites em claro trabalhando, como se eu amasse trabalhar aos sábados e ter ainda uma vida para resolver no domingo, antes que chegue a segunda-feira e atropele o tempo, criando mais bolas de neve insolúveis.

Dois mil e onze tem sido um ano difícil, de muitas (in)definições que eu espero que passem junto com o calendário. Muitos abismos e poços cujo limo já entranhou na minha pele de um jeito que eu nem sei quantas águas de janeiro serão necessárias para limpar. Mas tenho fé e boas esponjas de banho. O que eu não preciso é de pessoas que agravem mais do que eu os meus problemas. Pessoas que criem cobranças dentro das cobranças quando o papel de amigos poderia (poderia, apenas, pois não acho que ninguém deva nada a ninguém na vida) ser acompanhado de compreensão, apoio, afeto, sei lá, essas coisas que a gente diz em cartas da adolescência e depois ficam perdidas em gavetas antigas. Essas coisas que a gente vai deixando de ser e nem percebe. Quando vê sobram só compromissos, birras e frases ríspidas.


3 comentários:

  1. Calma, esses "compromissos, birras e frases ríspidas" passam tambem, junto com o ano. Daqui a pouco já teremos um ano novo, reclamaçoes novas e com sorte aquelas coisinhas boas que chamamos de surpresas, felicidades momentânea.

    =)

    Ps.: E realmente a nossa dor sempre será a maior do mundo.

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  2. Passam sim, e espero que logo, Acrobata. E as coisinhas boas também não deixam de estar aqui, mas às vezes as outras são tantas que ofuscam - ou eu deixo ofuscar quando não devia...

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  3. Biii, nao dá pra ser feliz o tempo todo. é preciso esses bocados de tristezas ou outras coisas.

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