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terça-feira, novembro 15, 2011

Rejeição e histeria feminina da Música Popular Brasileira

Há alguns dias atrás, alguns de nós ficaram chocados com dois casos de violência contra a mulher: o da moça de Natal e a outra de Belo Horizonte. Para mim, o que não choca, mas enoja são os muitos argumentos que justificam ou diminuem a proporção da agressão numa hora dessas. Não são poucas as pessoas, homens e mulheres, que ouvi comentando que se elas tivessem sido menos duronas, ou tivessem topado conversar com os caras, as coisas não seriam tão graves. No caso da Dani, me incomoda mais a série de violências que ela sofreu quando solicitou ajuda do segurança e do dono da boate.

Ela deve sofrer de excesso de fragilidade nos ossos...


Como eu disse, essas coisas me enojam, incomodam, mas na real, não chocam. Por quê? Porque violência contra a mulher e a ideia de que todas as mulheres são presas esperando o-macho-alfa-que-não-pode-ser-recusado são pensamentos bastante legítimos em nossa sociedade. Uma evidência disso é uma música que eu venho ouvindo com muita frequência sendo veiculada por uma das rádios mais tocadas no núcleo cult bacaninha do Rio de Janeiro.

Trata-se da canção A Doida, de ninguém menos que Seu Jorge, um dos destaques recentes da mpb, cujas canções eu costumava gostar. O título já revela bastante da imagem feminina que se desenha, não? Não é de hoje que as mulheres fora do padrão são colocadas no saco da loucura, muitos estudos no campo da História da Loucura se debruçaram sobre a patologização do comportamento fora da norma da mulher.

Suponho que algumas pancadas devem "curar" esse tipo de coisa.
A música conta uma breve história que pode se passar em qualquer casa noturna por aí: uma mulher que dispensa um homem. Sim, a personagem feminina aparentemente seduz o pobre coitado do homem à noite toda. Ele, enganado e iludido, paga bebidas - porque, obviamente, aceitar uma bebida é aceitar ir pra cama, como eu não pensei nisso se eu sei, como todo mundo, que toda mulher é prostituta - e depois é abandonado ao relento, pois "a doida vazou" como diz a música.

O sucesso da música para mim está bastante relacionado àqueles argumentos que defenderam os agressores da Dani e da Rhana, já que uma mulher que dispensa um homem (porque um homem é a única coisa que uma mulher precisa na vida, certo?) só pode ser lésbica ou doida mesmo. Porque todas as mulheres devem dar graças a deus todos os dias de suas vidas por terem homens dispostos a "bancar a noite inteira" e os homens, bem eles estão certos de não aceitarem um não, porque, afinal, "eles não são de perder", quando perdem, é legítimo que fiquem p*tos e acabem quebrando alguma coisa - não será culpa deles se essa coisa acabar sendo o braço ou a cara daquela que o rejeitou.

2 comentários:

  1. Tem a música do Vinícius de Morais, que todos amam e cantam, mas que SEMPRE me incomoda, que diz assim: "Formosa, não faz assim/ Carinho não é ruim/ Mulher que nega, não sabe não/ Tem uma coisa de menos no seu coração"

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  2. Qual é a música? Por esse verso eu não lembro... Vou procurar. O ruim é todo mundo cantar e achar o máximo.

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