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quinta-feira, setembro 16, 2010

Capítulo 3 - Três

Poderia ser uma letra de tango com palavras totalizantes, mas o que Lúcia vivia embalada por músicas da jovem guarda e nos momentos de maior sofrimento repetia os versos "pobre menina, não tem ninguém". Naquele quarto pequeno da pensão de Dona Carmem, gostaria de ter versos buarqueanos para embalar suas lágrimas noturnas, mas quando os homens cuja soma não fizera gozavam de pressa e saíam cheirando a gim, não tinha nem mesmo essas palavras para narrar o momento para si. O costumeiro inenarrável era para ela um constante desespero.

Recebia cartas constantemente, de seu irmão e de outros tantos admiradores que já não podiam visitá-la. Guardava todas numa mesma caixa e quando a solidão parecia maior do que o suportável acostumava-se a ler nas entrelinhas uma paixão que não havia, um amor que ninguém jamais sentira por ela.

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