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terça-feira, setembro 21, 2010

Capítulo Cinco - Envelope lacrado

Depois de um tempo, Lúcia já não abria as cartas de seu irmão. Era suficiente para ela saber que as coisas e pessoas estavam no mesmo lugar, faziam as mesmas coisas, tinham os mesmos problemas. Uma espécie de conforto residia em ter sua solidão inteira para degustar junto com todos os seus problemas novos e insolúveis.

É claro que um grande bocado do motivo de ter acumulado aquele montante de envelopes lacrados tinha a ver com a recusa de possíveis novidades. Não suportaria nem mesmo saber que Dario pudesse ter um grande problema, não conseguiria aguentar uma compaixão por ele no estado em que se encontrava. Ademais, não tinha interesse nenhum em ler que se formava um rótulo de felicidade em volta dele e de Marliana, que planejavam um bebê para o próximo ano, que ela havia parado com as faxinas para se dedicar ao lar. Não precisava que essas coisas ficassem ainda mais reais e constantes em sua cabeça. Não lia nem telefonava. O irmão não tinha o número da pensão, não corria maiores riscos.

Ou assim imaginava até a noite de ventos gelados em que a Dona da pensão bateu na porta enquanto se maquiava para mais uma noite. A Dona disse que tinha um homem esperando lá embaixo, que não era hora ainda, onde ela pensava que estava. O coração de Lúcia bateu como se tivesse a mesma ingenuidade de antes e o corpo cansado desceu o mais rápido que pode sem atentar a nada no que dizia a velha senhora.

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