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quinta-feira, setembro 29, 2011

Todo mundo odeia televisão


Durante toda a minha adolescência-tentativa-de-pseudo-intelectualidade eu dizia que quando tivesse minha própria casa nunca mais assistiria à televisão, que eu odiava aquilo, que atrapalhava a minha vida, que a culpa dos meus problemas de concentração era daquele aparelho ligado o dia todo etc.

Bem, eu realmente posso contar nos dedos das mãos as vezes em que a tevê daqui de casa (que de própria não tem nada, aliás) foi ligada e não vou mudar a frase de que atrapalha a minha vida, mas não tenho como negar que todas as vezes em que vou visitar minha mãe eu assisto. Também não posso negar aquele argumento de que a mídia manipula as massas, nos diz quem devemos querer ser, quem somos, quem não somos e tal. Contudo, já faz algum tempo - graças a deus!? - que eu deixei de tomar explicações assim tão simplistas para as coisas e acredito que nada é tão homogêneo e perfeito assim.

Isso tudo só pode ser mesmo um preâmbulo para eu dizer que gosto de televisão (desde que apreciada com moderação e muito senso crítico). Não faz assim tanto tempo que eu saí da casa da minha mãe e parei de passar todo o tempo com a caixinha colorida sorrindo para mim, mas percebo hoje o quanto a minha memória e as minhas principais referências para várias coisas na vida estão relacionadas aos programas, às novelas e, principalmente, às propagandas. Perco a conta de quantos textos publicitários me vêm à mente em momentos variados do quotidiano.

Entretanto, eu estou aqui para falar bem desse instrumento adestrador de criancinhas, não é mesmo? Então, nessas minhas visitas vespertinas à casa da mamãe não raro o horário coincide com um seriado que eu adoro: Todo mundo odeia o Chris.

Sempre que eu vejo os percalços da vida do adolescente num perigoso e estereotipado bairro de periferia e numa escola onde é o único aluno negro, eu me lembro de um outro seriado que acompanhou a minha infância, pré-adolescência e adolescência (sim, nós sabemos que 1. esses seriados costumam ter muitas temporadas; 2. O sbt nunca teve pudores para repetir mil vezes a programação; 3. Nós também nunca ligamos de assistir ao mesmo episódio 50 vezes, até decorar todas as falas): Um maluco no pedaço.


Não precisa de grandes explicações para traçar paralelos entre os dois seriados, não é? Contudo, o recente sucesso do Chris entre os meus alunos - e a variedade de exemplos que consigo retirar dos episódios para abordar em sala temas como racismo, segregação racial, desigualdade e preconceitos em geral - me fez pensar na importância que esses seriados têm na construção da identidade de muitos jovens. E isso se dá pelo mecanismo simples da identificação, nos mesmos mecanismos da mídia - está lá um personagem (nesse sentido, mais o Chris, porque afinal o Will estuda numa escola particular caríssima em Bel Air) que é um garoto pobre, negro, estigmatizado e, diferente do que pretende a professora da escola, normal.

Além disso, o seriado aborda outras questões corriqueiras como a exploração do trabalho infantil, o subemprego, o bullying, este tão na moda, etc. Sem falar no divertimento que é assistir a tudo isso naquela dublagem super bem feita. Não vou fazer a propaganda completa (sim, o que eu estava fazendo era só um comentário crítico, entendeu? Eu não sou uma criança deslumbrada com a televisão, ouviu?) porque além de não gostar muito da emissora que transmite a série, não faço ideia dos dias e horários em que é transmitida, vou sempre na sorte.

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