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segunda-feira, junho 03, 2013

Vontade

Para ler ao som de Daniel na cova dos leões (Legião Urbana)

Vinte e quatro anos e Adélia Prado na cabeça: "Não quero faca nem queijo, quero a fome". Não saberia usar a faca se me dessem, me enjoaria o queijo por ele apenas. Tenho só a fome. A fome em muitas versões. Umas machucam os outros, outras me fazem sangrar e eu nem sei se isso é ruim.
Vinte e quatro anos e alguma predileção pela dor, apesar de conhecer bem o conforto da alegria.
Vinte-quatro anos e tanto amor à volta que seria um disparate citar o Cazuza por pura falta de rótulo de relacionamentos.
Vinte e quatro anos e muita vontade de amar. Pura e simplesmente. Tudo e todos. Como uma criança que descobre o mundo de cores, sons e cheiros.

Vinte e quatro anos e a mesma mania de repetir as coisas.
As mesmas músicas no rádio, a adolescência tardia e a Legião me dizendo que continuo nas correntezas sem direção.
Inabilidade para lidar com as coisas cotidianas, coordenação motora quasinula, menos certezas, mas com uma que às vezes angustia: só se mudar de mundo é que um dia vou me sentir em casa nele.

Vinte e quatro anos e agora sei que a angústia de estar vivo não é inconformidade adolescente.
Vinte e quatro anos e alguns amores, algumas histórias, alguns contos, muitos dramas.
Vinte-quatro anos e alguns alunxs que me fazem pensar que existir vale a pena, mesmo que não se destine a nada.
Vinte e quatro anos e uma alegria que cerca, povoa, preenche de afeto e carinho. Vinte e quatro anos e o mais improvável de admitir: eu gosto de gente.

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