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sábado, outubro 02, 2010

Capítulo Sete - Atrás da porta

Aguentou por algum tempo até perceber que dava na mesma. Acordar, fazer o café, lavar a louça do café, arrumar as camas, varrer o chão, passar pano, fazer o almoço, servir o almoço, lavar a louça do almoço, tirar o pó, lavar a roupa, estender a roupa, recolher a roupa, passar a roupa. Mas o pior de tudo era escutar os lamentos de uma esposa perfeita, com sua vida pequena de quem não tinha com o que ocupar o tempo já que tinha uma cunhada para fazer de escrava.

Um dia percebeu que sentia saudades de se vestir demoradamente para as noites de promiscuidade na pensão da Dona. Pegou as meias já meio desfiadas que guardara numa caixa, junto com aquela par de sapatos pretos, saltos finos e pontas já meio puídas. Um dia pegou aquele vestido florido, de tecido macio e que rodava ao redor do seu corpo quando andava. Lúcia lembrou como era sentir-se bonita. Alguém bateu na porta do seu quartinho nos fundos da cozinha. Era Joelmo pedindo que pegasse copos e uma garrafa de cachaça na venda, que a ocasião era para festa pois ele ia ter um filho.

Lúcia aproveitou que já estava vestida, deu uma resposta de consentimento e mais uma vez reuniu suas poucas coisas para mais uma empreitada sem rumo.


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