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terça-feira, outubro 26, 2010

Paredes amarelas

No meu último dia de aula do ensino médio eu senti toda a desproteção do mundo que me esperava do lado de fora das paredes amarelas. A frase é muito forte, mas não é nada disso. Eu não consigo me lembrar detalhes do meu exato último dia de aula - e acho que isso não tem muita importância, já que me lembro bem de muitos dos dias percorridos nos meus sete anos de Colégio Pedro II.

Uma coisa que me lembro bem é que o significado de proteção que o colégio tinha para mim sempre esteve simbolizado nas paredes amarelas e seus furinhos estranhos por onde alguns alunos teimavam passar. As pessoas sempre me diziam em tom apavorante que o mundo aqui de fora era muito maior e que eu ía sair amputada. Eu, como boa discípula da metáfora da terceira perna, adorava essa pinta de adolescente desprotegida e disposta a enfrentar um mundo grandão fazendo aquela cara de filhote de gato.

Sobre o tamanho do mundo não tinha nenhuma mentira, mas não me disseram que a ausência das paredes era uma espécie saborosa de algo parecido com liberdade. Que do lado de fora a gente podia tomar café na hora do recreio, usar meias coloridas e colocar um boné na cabeça se desse vontade. O mundo é mesmo enorme e as possibilidades da vida muito mais infinitas que uma prova de vestibular - só fui perceber isso depois de quase terminar a faculdade e conhecer mais de perto esse mundo dos cursinhos.

As paredes amarelas? Bem, elas continuaram sendo um recanto adocicado da minha memória, um travesseiro quente onde se agarrar nas noites de solidão e desespero do futuro - quando não resta outra saída senão (opa!) olhar pro passado.

E foi buscando esse refúgio que acordei no dia da festa setembrina do colégio pensando única e exclusivamente que veria as minhas paredes amarelas. Qual não foi a minha surpresa quando me deparei com uma tinta verde-meleca-depressiva. A mesma falta de chão - ou de parede - de quando tive de passar por aqueles portões com ares de definição. Ainda devo ter em algum lugar o papel que me diz que, além de bacharel em ciências e letras, eu também não sou mais uma criança com direito a chorar por qualquer tropeço.

Isso ficou na minha cabeça por algum tempo, até a data recente em que cheguei na faculdade e me deparei com um amarelo indeciso sobre as paredes antes de um branco habitualmente incardido. Entrei em paradoxo e comecei a repensar todos os meus simbolismos e dependências e amarras visuais.

Sem nenhuma conclusão, fico com esse meu medinho-gigante de perder as amarras de novo e ganhar o tal atestado de adulto, mas isso é papo para o ano que vem...

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