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terça-feira, outubro 12, 2010

Um tempo andando no escuro

Impossível ensolarar quando a primavera não chega. O tempo não cabe no meio das nuvens cinzas. Tem uma neblina densa, espessa. Quando ameaça um azul, ele vem gelado. O frio não dissipa. O cinza não se espalha. As flores não desabrocham. Não chegam as tardes de sol a pino e meu melhor sorriso continua guardado na gaveta.

Um felino enlouquecido às vezes abre a gaveta à força e arranca de lá sorrisos, suspiros contidos, gozos acumulados.

Os botões de rosa não se abrem. Há muitas ervas corroendo os jardins. Eram pequenas e parecia que não sobreviveriam ao frio. Agosto passou, setembro passou e a boa-nova não entrou nos campos. Eles estão secos, com aquela cor de palha incendiada. Pela janela só adentra o orvalho frio, o sereno gélido. Não há sequer luares para além das nuvens. Há mais nuvens. Depois das brancas as cinzas, cada vez maiores, cada vez mais espessas, cada vez mais escuras, cada vez mais chuvosas.

Eu olho pela janela, me perco através dos galhos ressequidos das árvores procurando o dia em que choverão todas. Que desaguem, eu peço. (E que ainda exista um sol por trás delas).


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