E da impossibilidade sempre surgia a loucura. A vontade-louca. O incontrolável, inadiável, irrecusável. Por isso mesmo não dito, não feito, não sentido.
Vivemos em um tempo em que a fome não mais muito possível. A saída é sempre o nojo do que se come não para matar a fome, mas para não morrer de inanição. Morte pudica, santa, cristã, abdicada. Depois de tantas voltas, discursos, protestos. Depois de explicar vagarosa e insistentemente para tantos ignorantes (mais felizes), subverter as ordens, as amarrações, as normatividades, não é que. Não é que se via agora pensando, mais do que pensando, se via dizendo em alto e bom som que não era mais possível. Assim, como se o tempo tivesse passado, como se fosse uma questão de tempo apenas. Como se o tempo em que parecia que ia dar (sabe quando parece que vai dar?) já tivesse passado, ou nem tivesse existido, ou tivesse passado antes de a gente ter consciência - o que dá na mesma.
Não mais desabafo, palavra só dita em sussurros, como segredo. Nunca mais drink no dance e nunca mais bis. Nem importava, não mudaria mais nada que não fossem apenas closes, não importava que lhe cortassem os pés se já não andava, se o tal tripé ainda estava ali, ainda, meu deus! Tudo no mesmo lugar, a mesma imobilidade - e saber desde sempre, saber que bastava um corte, um rasgo com qualquer pedaço de vidro na face, uma amputação, uma perna a menos. O chão continuava limpo, a tela ainda em branco, variando os planos de filmagem e montagem da mesma cena imóvel e branca. O vazio o vazio o vazio. Esse que às vezes ecoava na cabeça e levava à loucura, mas depois trazia de volta e não fazia muita diferença. Todos os lugares aonde tinha ido não valiam mais de muita coisa, já que voltara ao mesmo lugar.
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