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domingo, abril 29, 2012

Dia de Laika

Acendeu o baseado pensando em aparelhos-ideológicos-estatais, em como tinha se transformado em algo completamente diferente de tudo o que já quisera - poderia dizer de tudo o que já sonhara, mas há tanto tempo não sabia o que era isso, há tanto tempo não dizia nada a ninguém e tudo isso não passava de pequenos pensamentos perdidos, mal formulados em meio à fumaça - por pura ausência de saber o que querer. Sentiu a onda batendo aos poucos, como um carro saindo de um longo engarrafamento, como um escritor que não tem referências além das suas próprias, como um ser humano que não sabe ser mais do que um reles humano.

Deixou as lágrimas caírem porque era preciso. Torrente de dor que desfaz qualquer tentativa de fingir que não existe todo esse desespero, tentativa de transformar sofrimento em poesia quando o caso é apenas deitar e chorar lágrimas que não lavam nada porque é tudo mistério, cores estranhas e mal sobrepostas, músicas a cada dia menos harmônicas, dor pura e simples. Simplicidade da desvontade, de saber que as palavras grandes são decorrentes do que se faz sem querer, de saber-se alimentando, perpetuando quando seria bem mais justo o caso de desfazer, bagunçar, reverter em vez de verter em lágrimas bestas toda a auto-repressão tão tão tão diariamente criticada.

Mais um. Mais dois. Mais três. Já não fazia diferença o quanto mais de dor viria se não sabia mesmo contar. Quanto mais obstáculos se sobreporiam, a pele acumulara cascos nos últimos tempos, mas ah! eles tinham sulcos e fendas em que passavam pequenas farpas que se acumulavam até atingirem níveis insuportáveis em que transbordavam risos, ondas e lágrimas.

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