A poesia grita em duelos nas ruas
povoadas de almas desertas
que se desconhecem
mas já se viram n'outras noites e carnavais
Não sei se tem mais poeta
ou vendedor de amendoim
no pouco espaço entre as mesas e corpos
Não sei se eles têm mais fome
de comida ou de voz
Não sei se eu tenho mais culpa
ou sede
Sei é que um pouco de arte passa
Aos borbotões
nas calçadas sujas de suor e solidão
Não sei se é mais fome ou angústia
Não sei se ele põe mais orégano
ou desenhos de capa
se faz promoção-três-por-cinco
ou declama alto pr'as menininhas
cheias de vontade que alguém lhes diga
qualquer coisa que pareça vida
e eles dizem
mesmo que seja essa vida parca,
esses dias consecutivos,
esses brindes aguados em copos vazios,
esse tesão forjado,
essa teatralidade canastrona,
essa chuva que cai dos olhos
no verso mais cliché
que se diz com lascívia.
com seus livretos curtos
de papel xerocado na gráfica da esquina
- aquela mesma dos balcões antigos -,
com seus cones de papéis coloridos
e higiene duvidosa
eles jogam uma pá de terra
na culpa
e uma pá de letra
na cara dura
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