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sexta-feira, agosto 24, 2012

Laço de fita

Abro pontas que talvez alguém ate. Talvez alguém faça laços, leques. Espalho migalhas que talvez alguém recolha e siga como um conto infantil sem saber que são tirinhas de no máximo quatro quadros. Desenho em nanquim os contornos do cenário, pequenos quadros, curta sequência - assim do jeito ideal para caber nos meus sonhos e na minha capacidade de elaboração literária, que todos sabem que é do tamanho do meu estômago. Faço os limites dos quadros, restrições torpes baseadas em metas rasas, e depois chamo carinhosa e forçosamente de mol-du-ra. Há quem compre a ideia, elogie o trabalho do marceneiro e há os mais prosaicos que, como deve ser, nem reparam nesses detalhes desinteressantes que rodeiam as obras de arte. Vou colocando as minhas próprias dentro. Passando os dedos de olhos fechados para melhor sentir a textura, chegando o rosto bem perto para procurar ainda um cheiro das cores - sabendo que é isso o que importa. Tirando o limo para escorregar mais fácil, mais rápido no caminho desembestado que sempre leva ao chão.

Chão que eu decoro com pedrinhas, que eu povoo com sonhos, livros e poucas coisas cuja graça consiste em escolher junto com meus botões onde cada coisa fica. Por fim, ato sozinha as pontas, faço laços, origamis e junto minhas próprias migalhas com as pontas dos dedos - que bem conhecem os caminhos da boca.

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