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quarta-feira, agosto 15, 2012

Para se ler ao som de Mapas do Acaso (Engenheiros do Hawaii).

A mão finalmente alcança o disco e põe na vitrola com a convicção de já ter tocado outras coisas. O riso que se fecha para tragar mistura vaidade e a sensação boba que só as felicidades simples trazem. As defesas vão sendo minadas a cada pequeno gesto, cada palavra doce no meio da tempestade. Depois de ter perdido o chão e o teto, a gente não espera muita coisa da vida, acha que dá pra viver na tristeza de um poema. Um poema-guarda-chuva, que alguém abre e eu me deixo envolver por qualquer pequena proteção.

Liberdade é quando diante do mar aberto a gente se agarra a uma única gota. Se agarra com toda força que tem, sabendo que não tem quase nenhuma, não tem quase nada além desse medo enorme de que doa ainda mais. Era para mergulhar nas coisas todas, nas cores todas, mas aí uma gota faz perder o caminho, uma gota dá conforto, paz, uma gota faz com que esse vazio de estar vivo seja esquecido por algumas horas, que esse sangue que escorre das feridas inflamadas estanque por alguns minutos. Gota pequena que deixa no ar alguma ilusão de não estar tão sozinha no mundo - mesmo sabendo que é só ilusão, fica essa vontade de mais. Sorvendo na boca uma única gota e pensando em porres homéricos e mergulhos intensos.


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