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quinta-feira, setembro 04, 2008

Salubridade da alma

“Nessa extravagância, o teatro desenvolve sua verdade que é a de ser ilusão. Coisa que a loucura é, em sentido estrito”. Michel Foucault, em História da Loucura.

A loucura é pois a essência da arte. É o instrumento de que é feita a nossa nova vida imaterial, pseudo-cultural. É da abstração e do mergulho em nossos mais esdrúxulos devaneios que provém o que enaltecemos como genialidade.
O espectro da loucura perpassa a arte há séculos na tentativa de justificá-la. Fico tentada a pensar se a ação não é recíproca: a arte subsiste como meio de justificar a loucura que, apesar de considerada um desvio da normalidade, mostra-se há séculos tão abundante em nossas sociedades; ao passo que a loucura sobrevive como um instrumento do qual a arte é feita, o alimento de que é feita.
O delírio, a imaginação, a inversão e a subversão dos valores morais – entre outros aspectos condenáveis para o bom funcionamento da vida prática – ganham lugar nos palcos, nas páginas literárias, nas telas etc.
Já me ouvi muitas vezes dizendo que escrevo para não enlouquecer. Bobagem. Eu escrevo porque a literatura é o espaço onde posso enlouquecer sem pudor. A dimensão da arte é onde é possível devanear, extravasar minhas alucinações, minhas paranóias, minhas obsessões. Escrevo para viver tranqüilamente minha esquizofrenia. É com as palavras que posso viver minhas muitas vidas que explodem dentro de um corpo só. Nas palavras me cabe bem ora melancolia, ora minhas tolas manias. Escrevo para experimentar meu autismo, minha literatura é meu mundo particular e impenetrável. Escrevo para enlouquecer sozinha e em paz.

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