Histórias começam e terminam. Páginas foram feitas para serem viradas e a outra nem ainda. O corpo está quente e o cadáver nem está ainda esverdeado como deveria. Ainda está na mesa da sala, em velório mórbido. Velo pelo prazer sádico de ver apodrecer, quero ver os vermes surgindo e ver se entra na história a controvérsia da geração espontânea. A minha morte eu gero no ventre e aborto. Não basta mais o vômito para expulsar de mim o que precisa de contrações longas, gritos lancinantes e esse frio na pele que é sempre sinônimo de vida.
A pele vai criando fissuras, os lábios descamam, há pruridos que normalmente só surgem no calor. Há o vazio. Há o vazio de pairar no vazio. Há o conforto desesperante de não esperar nada e ainda assim se decepcionar com cada pequena estupidez humana. Dá essa sensação gostosinha de superioridade. Dá essa solidão altiva no mundo, o desconforto, o não se sentir em casa - e tudo bem, já que não há nenhuma para. Há uma esperança de que o refazer preencha alguma coisa, quando toda a superfície está envernizada e não há jeito de mesclar partes, não mistura, não há jeito.
Não há porta aberta. Lacrei fendas e posso pensar em barreiras de som se for o caso. O show está montado e não há palcos. Uma cena perdida apenas, com partes de cenário que perambulam pela casa, fotos inquisidoras que olham e reolham e indagam coisas que a boa educação não permite. Ficou muita coisa para arrumar e jogar fora. Ficou o desespero e a repulsa imensa de tudo o que venha do passado. Repulsa de gente.
Vêm os vícios. A gramática tão repreensível e repressora, os cigarros, as páginas mudas à guisa de companhia, as cervejas, os pequenos detalhes que iludem e fazem pensar que a calmaria não é tanta quanto parece. Não era a última, afinal. Era mais medonha. E virão outros, outras, eu sei. Os móbiles giram e, como um bebê colocado à força e ingênuo no berço, eu olho e reolho e vejo o furacão que se aproxima no vazio de não saber de nada, não querer nada e não ter para onde fugir, não querer correr no meio da tempestade que passa mais depressa e mais lenta do que eu gostaria. Eu não gostaria nada, eu não queria nada, eu só queria sentir. E agora sinto as coisas mais fundas cortando a pelo. Exponho na ânsia de guardar e expulsar paradoxal e simultaneamente.
Eu me perco e nem ligo de estar perdida se a gente encontra um ou outro perdido pelo caminho. Muda tudo a cada minuto e o que permanece é essa desvontade absurda. Fica a ânsia de chafurdar na lama fria, pegajosa, sentir como toca a pele, como é fétida e como gruda na pele e endurece nela assim.
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